Hortas agroecológicas são implantadas em comunidades indígenas urbanas
Um grande projeto que leva geração de renda de forma sustentável às famílias indígenas moradoras das cidades e regiões periféricas começa a ser implantado por Campo Grande e mais duas cidades do interior. O Projeto Agricultura Periurbana em Comunidades Indígenas de Mato Grosso do Sul, desenvolvido em parceria pela UFMS e o governo do Estado, através da Semagro, foi lançado no último dia 10 de dezembro.
O projeto tem ainda as parcerias com prefeituras e recebeu recursos de emendas parlamentares destinadas pelos deputados federais Vander Loubet e José Orcírio Miranda dos Santos. Na coordenação está a professora Vanderleia Mussi, do curso de História da UFMS, e o responsável técnico é o engenheiro agrônomo Altair Luiz da Silva, da Agraer.
Com um leque de benefícios, a iniciativa fortalece e dá melhores condições de vida às comunidades e atende ao menos duas metas da Organização das Nações Unidas (ONU) dentro do Programa de Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade (Epanb): Meta 4 “Produção e consumo sustentáveis” e a Meta 18 “Respeito às populações e conhecimentos tradicionais – Fortalecimento dos Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais”. A ONU estipulou 20 metas no Programa Epanb para serem alcançadas até 2020, em todo o planeta.
O projeto
O projeto consiste na construção de hortas comunitárias agroecológicas. O engenheiro Altair da Silva explica que o nome já conceitua a ideia: uma horta que vai ser trabalhada de forma comunitária, beneficiando todos os moradores da localidade atendida, e persegue o modelo de produção sustentável, com economia de energia, água, manejo de pragas, sem uso de fertilizantes e defensivos químicos.
Estão sendo atendidas nessa primeira fase do projeto duas comunidades de Campo Grande: a Aldeia Água Bonita, que reúne cerca de 200 famílias, e a Comunidade Terapêutica do Lageado, uma iniciativa do Frei Jonas que atende cerca de 500 pessoas daquela região. É a única associação não indígena, mas com um trabalho social vigoroso que justifica sua inclusão no projeto.
As duas comunidades receberam uma estufa com 84 metros quadrados equipada com sistema de irrigação. Na Aldeia Água Bonita estão sendo instalados, ainda, 23 telados com 80 metros de comprimento cada e sistema de irrigação por gotejamento. Também insumos, sementes e ferramentas. Nas estufas a ideia é produzir mudas que serão transplantadas nos canteiros telados e, no caso da Comunidade do Frei Jonas, distribuídas para os moradores plantarem suas próprias hortas.
No interior são atendidas duas comunidades: Aldeia 10 de Maio, em Sidrolândia e a Aldeinha, em Anastácio. Ambas ganharam duas estufas de 84 metros quadrados com sistema de irrigação, mais 200 metros quadrados de telados com irrigação por gotejamento para desenvolvimento das plantas em canteiros. As estufas e os telados permitem a produção de verduras folhosas (alface, couve, cheiro verde, almeirão, rúcula etc) mesmo no Verão, quando as chuvas e o calor são intensos.
Água Bonita
Essa possibilidade já anima as famílias da Aldeia Bonita, tradicional comunidade indígena urbana de Campo Grande que trabalha com a produção de hortaliças há vários anos. O presidente da Associação e coordenador da Horta Comunitária, Auder Romeiro Larréia, conta que no Verão a produção e a renda caem pela impossibilidade de plantar verduras muito apreciadas pela população, como alface e rúcula.
“As chuvas e o sol forte não deixam crescer. Mas com os telados e a estufa isso será possível”, diz ele. A aldeia tem um sistema comunitário de produção e distribuição dos lucros obtidos pela horta, que representa a principal fonte de renda dos moradores. Larréia conta que 10% de tudo que se produz são distribuídos igualmente entre os moradores para consumo próprio e o resto é vendido no comércio ao redor. “Já cheguei a tirar 6 mil reais em um mês”, conta ele.
A chegada da estufa pode representar um incremento significativo na renda das 23 famílias da Água Bonita. “vai dar pra ganhar o dobro”, estima Larréia, considerando que no Verão o preço das verduras sobe pela dificuldade de produção.
A ideia é agregar novas técnicas e expandir as hortas, conta o engenheiro agrônomo Altair Silva. “Já trabalhamos com a possibilidade de implantar a hidroponia e a produção vertical. São muitas as técnicas para melhorar a produtividade, vai depender bastante do envolvimento da comunidade e de novas fontes de financiamento para o projeto.”
Texto: João Prestes/Assessoria de Comunicação da Semagro
Foto: Pixabay/Julia Casado